1 – JULGAR entra no segundo ano de existência. Num momento em que as questões da justiça continuam a ser discutidas ao sabor de pequenos e grandes acontecimentos conjunturais a premência de um debate sedimentado é, não apenas alternativa, mas a primeira resposta às necessidade de quem se confronta com as questões do judiciário de uma forma permanente.
2 – A questão das alterações estruturais na área da justiça percorrem espaços territoriais que vão para além do conceito nacional de soberania tradicionalmente conhecido. Hoje as reformas são efectuadas no espaço Europeu a um nível tão ou mais premente que em Portugal. A atenção ao que se passa na jurisdição, naquele espaço que também é nosso, é assim fundamental à procura de soluções de mudança. O artigo que se publica sobre a distribuição de processos em seis países da Europa permite-nos olhar para fora com os olhos «cá dentro» numa matéria que brevemente poderá suscitar muitas dúvidas. De igual modo a questão da avaliação judiciária em Itália é um outro exemplo da atenção cuidadosa na articulação entre a «governance» e a «accountability» judiciárias, num país que preza muito a independência da sua magistratura.
JULGAR é também olhar para quem julga e sobretudo olhar para o modo como se julga. Se essa visão é efectuada por quem mantém alguma distância então o resultado sobre uma «crise de indentidade» pode ser interessante. Mas é também estar alerta aos problemas práticos diários decorrentes de reformas processuais relevantes e resolver os problemas práticos exigidos pelas novas leis, como é o caso dos recursos no processo civil.
3 – DEBATER os desafios que uma sociedade democrática, multicultural, pluralista e o que nela se exige à justiça não é uma tarefa inacabada. Os textos que se apresentam são uma primeira abordagem de um percurso extenso, difícil e sobretudo arriscado que se pretende fazer. Género, Bioética, poder paternal são apenas uma pequena gota num enorme mar de problemas que no entanto os juízes têm que responder. Daí que se questione a formação dos juízes, sob perspectivas diversas, nomeadamente num momento de mudança legislativa.
4 – A realização de um colóquio fundamental sobre um momento histórico relevante para o direito português – «Justiça e Processo» (100 anos depois do Decreto n.º 3, de 29 de Maio de 1907) – permitiu percepcionar a importância da memória na interpretação dos problemas actuais do papel do juiz na sociedade portuguesa. DIVULGAR as intervenções então efectuadas é um imperativo editorial numa revista da jurisdição. Aqui se publicam dois dos trabalhos apresentados ficando a promessa de que no próximo número serão publicados os restantes textos. Há, por outro lado, estudos que não devem ficar «arrumados». A sua divulgação mostra-nos a realidade onde iremos julgar.