Longe vai a era em que a retórica verdadeira traduzia a ciência de bem dizer sob o signo da Justiça, ou, o que é quase o mesmo, a arte de dizer o adequado a persuadir os juízes no Tribunal pelo discurso, sendo a eloquência em si apenas um modo de falar sem real reflexão. Ou aquele em que a retórica, tendo por objecto o justo e o injusto, e realizando-se através da palavra exata e reta do orador-artífice tradicional, era considerada a mais bela de todas as artes.
Fazer esta abertura não implica olhar para esse tempo (Roma Antiga/Grécia Clássica) com o óculo tardio da nostalgia. Contudo, é evidente que algo de nefasto sucedeu para que o ciclo da cultura retórica acabasse como a Roma Antiga. E se ao declínio dramático da Cidade Eterna de Virgílio sucedeu a perda do Ocidente e a Idade das Trevas pós-romana, devido à invasão hostil do Império pelos bárbaros, também ao fim da transcendência da retórica adveio um tempo negro configurador de uma nebulosa mudança de modelo.