Edição genética de animais: quando o capricho suplanta a necessidade

  1. Introdução

Se hoje Michelangelo Buonarotti voltasse a pintar “A Criação de Adão” no teto da Capela Sistina, seguramente optaria por colocar o Homem de costas voltadas para Deus e de proveta na mão. O progresso científico-tecnológico tem avançado à velocidade da luz (porventura, rápido demais e deixando para trás a tartaruga ético-jurídica) e o «Homo Evolutis» – que tem a capacidade de projetar mentalmente o seu futuro – parece não desistir da pretensão futurista de construir uma sociedade e um planeta à sua medida. A investigação científica em torno do genoma proporcionou ao Homem a capacidade de “conhecer, prever, mudar” os seus genes e os de todos os organismos que o rodeiam, através do recurso a múltiplas técnicas de engenharia genética – como é o caso da CRISPR/Cas. Foi em 1995 que se decifrou, pela primeira vez, o genoma de um ser vivo: o da bactéria haemophilus influenzae, responsável pela meningite e pela provocação de infeções nos ouvidos. Seguiram-se várias tentativas de sequenciação do genoma de outras espécies, mormente pelo seu potencial para a promoção do desenvolvimento biotecnológico – por exemplo, no que diz respeito à produção de enzimas, antibióticos ou vacinas.

Assim, o Homem procurou conhecer-se a si próprio (naquilo que ele tem de mais íntimo: o seu património genético) e a tudo aquilo que o rodeia. Porém, como é comummente sabido, seres humanos e animais “dividem a terra, habitat comum que partilham, mas vivem em mundos paralelos, separados pelo Direito”, pela filosofia ou até mesmo pela (bio-)ética. Deste modo, a pretexto de razões mais ou menos legítimas, todos os anos são mortos (ou, se quisermos recorrer a eufemismos legais, occisados) biliões de animais, seja para fins alimentares, de entretenimento ou de investigação científica.